Apesar de alguns misturarem os
conceitos, o fato de um filme ser antigo não quer dizer que seja um clássico. Vivamos
hoje, mesmo dirigido por Howard Hawks, e com os astros Joan Crawford e Gary
Cooper nos papéis principais, é só um filme antigo. A excelência técnica da MGM
na época, com Irving Thalberg ainda no leme, impede que o filme seja uma total
perda de tempo, mas os problemas são por demais significativos para que sejam
ignorados, tanto numa análise fria de hoje em dia, como no calor da época (foi
um dos pouquíssimos fracassos de bilheteria de Joan Crawford nos anos 30).
Levando-se em conta que o filme é
adaptado de um conto de William Faulkner, com participação dele nos diálogos (o
roteiro mesmo foi escrito por Dwight Taylor e Edith Fitzgerald), o fracasso
salta ainda mais aos olhos, mesmo com toda a lendária inadequação de Faulkner
em Hollywood. Isso porque o próprio roteiro tem crateras lunares em sua
estrutura, como o amor recorde de Diana (Joan Crawford) por Bogard (Gary Cooper,
emprestado da Paramount, onde tinha contrato), o homem que compra a casa de sua
família após a morte de seu pai. Em apenas uma passeada de bicicleta juntos,
dois completos estranhos declaram, em tom robótico, que estão apaixonados um
pelo outro. Não convencem ninguém, evidentemente, na que com certeza é das
piores cenas românticas da história de Hollywood. A falta de química entre os
dois também se verifica entre Diana e Claude (Robert Young), que faz com ela o
triângulo amoroso básico do filme (que remete a Asas, filme bastante superior a
este aqui). O mais bizarro de tudo é que no filme há sim química entre um
casal, mas justamente onde não deveria haver, de Diana com seu irmão (Franchot
Tone), e isso aconteceu porque foi trabalhando neste filme que Joan Crawford e
Franchot Tone se apaixonaram (o que levou a um casamento pouco depois), e a
tela capta isso, curiosamente. Parecia que até o destino estava atrapalhando o
filme...
As cenas de aviação da Primeira
Guerra Mundial são muito boas, mas isso não é mérito do filme, já que foram
emprestadas de Anjos do inferno, de Howard Hughes. Howard Hawks demonstra que
não estava lá muito comprometido em criar um romance entre os atores,
abandonando a empreitada desde o início e só focando na guerra e no heroísmo
dos personagens (o que sempre foi seu forte, o sentimento de grupo entre eles,
que repetiu nos seus maiores sucessos). Joan Crawford e Gary Cooper estão bem
per se, mas não ajudando um ao outro (ela já era uma estrela, ainda mais depois
de Grande Hotel, onde até ofuscou Greta Garbo. Ele já estava muito perto deste
status, ainda mais depois do sucesso de Adeus às armas), e nenhum ator sequer
tenta adotar um sotaque britânico. Os figurinos de Adrian para Joan Crawford,
apesar de muito bonitos, ignoram a época em que se passa o filme, sendo
claramente dos anos 30 mesmo. Do desastre, salvam-se Franchot Tone, que tem a
melhor atuação do filme, a juventude do casal principal (pena que nunca mais contracenaram
juntos), a eficiente fotografia de Oliver T. Marsh e o fato da MGM, mesmo nos
seus piores momentos, conseguir criar um filme de ritmo razoavelmente ágil, que
não cansa o espectador (nem o faz se concentrar tanto nos defeitos do filme). Mesmo
com todos esses problemas, Vivamos hoje não se interpôs no caminho de quem
trabalhou nele, bem ou mal os quatro atores principais e o diretor seguiram com
suas carreiras de muito sucesso. Às vezes se vê a força de um grande time nas
suas piores derrotas.
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