sábado, 1 de setembro de 2012

Batman: O cavaleiro das trevas ressurge (The dark night rises – 2012)




Cada vez mais Christopher Nolan vai se firmando como uma espécie de Spielberg do começo do Século XXI, enfileirando blockbuster atrás de blockbuster, e puxando a locomotiva hollywoodiana sem dar a menor impressão de esmorecer. Não é qualquer diretor que aguenta o tranco de dirigir um filme de enorme orçamento, e Nolan faz isso parecer fácil e natural. Joga Final de Copa do Mundo como se estivesse disputando um amistoso em Volta Redonda. Com Batman: O cavaleiro das trevas ressurge, o diretor ainda por cima tinha a enorme pressão de superar, para os fãs, a extremamente positiva experiência do filme anterior da trilogia. Se não o supera, ao menos pode-se dizer que chega perto, demonstrando a sua expertise em filmes do gênero.

Misturando elementos díspares como terrorismo (a fobia principal de nossos tempos), um arremedo do terror e anarquia da Revolução Francesa (com pinceladas reverenciais de “Um conto de duas cidades”, de Charles Dickens), e mais um toque de envelhecimento do herói principal, Nolan faz uso de boa parte de seus atores prediletos, inclusive 5 egressos de seu último sucesso, A origem (Michael Caine, Marion Cotillard, Tom Hardy, Joseph Gordon-Levitt e Cillian Murphy). Trabalhando com este elenco tarimbado, e contando ainda com Christian Bale cada vez mais confortável em seu uniforme negro e com uma mulher-gato afiada como Anne Hathaway, Nolan evita o ritmo frenético desde o começo, construindo aos poucos o clima de tensão que, inevitavelmente, chega a seu ápice na parte final do filme, que, mesmo com 164 minutos, passa voando, devido à mão segura do diretor. Porém, mais do que um ritmo impecável, Nolan soube, por toda a trilogia, dar alma ao personagem do Batman e a seus companheiros e vilões, acrescentando um tom de seriedade que se assemelha a que um diretor normal faria com uma adaptação de Shakespeare. Talvez esta tenha sido sua melhor qualidade, não ter barateado o seu projeto, ter valorizado o que tinha em mãos desde o primeiro filme, sem resvalar para a paródia ou comédia pura e simples, como tanto fizeram a série de TV antiga ou os filmes da década de 90. Nolan soube entender e exibir a tragédia por trás do personagem, a culpa, a alienação, a reclusão, sem apelar para piadinhas ou personagens por demais caricatos. Soube também trabalhar antenado com o mundo que o rodeia, surfando até mesmo a onda do momento ao criar uma catarse coletiva com uma efetiva “ocupação” da Bolsa de Valores de Gotham City. Bane, o vilão, tem um pouco de justiceiro, de Robespierre, de anti-capitalista, e não é difícil imaginar que, no meio desta crise econômica toda em que vivemos,  alguns mais revoltados cheguem a simpatizar com ele...

Nolan declarou que Batman begins tinha, para ele, o tema  do “Medo”, o segundo filme representaria o “Caos” e, este último, a “Dor”. E realmente neste filme sentimos o Batman mais falível, mais sofrido, mais humano enfim, com mais dúvidas do que o normal, passando por verdadeiras provações. Mas o que ninguém poderia contar é que a dor extrapolaria os limites do filme e chegaria ao absurdo que foi um maluco matar 12 pessoas e ferir mais de 50, em um cinema exibindo o filme em Aurora, no Colorado. Infelizmente, não é apenas Gotham City que precisa de ajuda, um Batman nos seria de enorme benefício para nos salvar de nós mesmos. Pena que ele não existe... ou que exista apenas na trilogia absoluta de Christopher Nolan deste que sempre foi o mais soturno dos super-heróis.

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