Cada vez mais Christopher Nolan
vai se firmando como uma espécie de Spielberg do começo do Século XXI,
enfileirando blockbuster atrás de blockbuster, e puxando a locomotiva
hollywoodiana sem dar a menor impressão de esmorecer. Não é qualquer diretor
que aguenta o tranco de dirigir um filme de enorme orçamento, e Nolan faz isso
parecer fácil e natural. Joga Final de Copa do Mundo como se estivesse disputando
um amistoso em Volta Redonda. Com Batman: O cavaleiro das trevas ressurge, o
diretor ainda por cima tinha a enorme pressão de superar, para os fãs, a
extremamente positiva experiência do filme anterior da trilogia. Se não o
supera, ao menos pode-se dizer que chega perto, demonstrando a sua expertise em
filmes do gênero.
Misturando elementos díspares
como terrorismo (a fobia principal de nossos tempos), um arremedo do terror e
anarquia da Revolução Francesa (com pinceladas reverenciais de “Um conto de
duas cidades”, de Charles Dickens), e mais um toque de envelhecimento do herói
principal, Nolan faz uso de boa parte de seus atores prediletos, inclusive 5
egressos de seu último sucesso, A origem (Michael Caine, Marion Cotillard,
Tom Hardy, Joseph Gordon-Levitt e Cillian Murphy). Trabalhando com este elenco
tarimbado, e contando ainda com Christian Bale cada vez mais confortável em seu
uniforme negro e com uma mulher-gato afiada como Anne Hathaway, Nolan evita o
ritmo frenético desde o começo, construindo aos poucos o clima de tensão que,
inevitavelmente, chega a seu ápice na parte final do filme, que, mesmo com 164
minutos, passa voando, devido à mão segura do diretor. Porém, mais do que um
ritmo impecável, Nolan soube, por toda a trilogia, dar alma ao personagem do
Batman e a seus companheiros e vilões, acrescentando um tom de seriedade que se
assemelha a que um diretor normal faria com uma adaptação de Shakespeare.
Talvez esta tenha sido sua melhor qualidade, não ter barateado o seu projeto,
ter valorizado o que tinha em mãos desde o primeiro filme, sem resvalar para a
paródia ou comédia pura e simples, como tanto fizeram a série de TV antiga ou
os filmes da década de 90. Nolan soube entender e exibir a tragédia por trás do
personagem, a culpa, a alienação, a reclusão, sem apelar para piadinhas ou
personagens por demais caricatos. Soube também trabalhar antenado com o mundo
que o rodeia, surfando até mesmo a onda do momento ao criar uma catarse
coletiva com uma efetiva “ocupação” da Bolsa de Valores de Gotham City. Bane, o
vilão, tem um pouco de justiceiro, de Robespierre, de anti-capitalista, e não é
difícil imaginar que, no meio desta crise econômica toda em que vivemos, alguns mais revoltados cheguem a simpatizar
com ele...
Nolan declarou que Batman
begins tinha, para ele, o tema do
“Medo”, o segundo filme representaria o “Caos” e, este último, a “Dor”. E
realmente neste filme sentimos o Batman mais falível, mais sofrido, mais humano
enfim, com mais dúvidas do que o normal, passando por verdadeiras provações.
Mas o que ninguém poderia contar é que a dor extrapolaria os limites do filme e
chegaria ao absurdo que foi um maluco matar 12 pessoas e ferir mais de 50, em um
cinema exibindo o filme em Aurora, no Colorado. Infelizmente, não é apenas
Gotham City que precisa de ajuda, um Batman nos seria de enorme benefício para
nos salvar de nós mesmos. Pena que ele não existe... ou que exista apenas na
trilogia absoluta de Christopher Nolan deste que sempre foi o mais soturno dos
super-heróis.
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