Depois de seu ultra-claustrofóbico
Enterrado vivo (passado dentro de um caixão, em tempo real), o diretor espanhol
Rodrigo Cortés ampliou seus horizontes e embargou neste projeto de escopo bem
maior, com um elenco estelar. Escreveu o roteiro, produziu, editou e dirigiu
Poder paranormal, e a pergunta de “Como ele conseguiu fazer tudo isso?” se
relaciona tanto a ele mesmo quanto ao tema de seu filme. O enredo trata de dois
cientistas (Cillian Murphy e Sigourney Weaver) e suas solitárias jornadas de
tentar provar, em termos científicos, os possíveis impostores que tentariam
enganar o público, angariando dinheiro em cima de falsas esperanças
paranormais. Cortés pesquisou a fundo a paranormalidade, e chegou à conclusão
que os dois lados, tanto os céticos como os ditos paranormais, se concentram
sobretudo em defenderem suas crenças e menosprezarem as contrárias às deles,
sendo mais fanáticos do que seria adequado numa pretensa busca da “verdade”.
Enquanto o filme se concentra nesta eterna divisão ciência versus sobrenatural,
e nos truques de como os provados impostores enganaram o público, o filme
surpreende positivamente e traz bons questionamentos, inclusive quanto ao que
motivaria tais cientistas buscarem tanto algo que, caso tenham sucesso,
decepcionaria um público ávido por ilusões.
O problema maior é que o filme se
divide em praticamente duas metades. Após um cuidadoso e envolvente estudo dos
personagens, e de algumas cenas interessantes calcadas num eficiente clima de curiosidade
e suspense, Cortés parece preferir focar mais no thriller do que nas nuances
entre os cientistas e os paranormais. O personagem de Cillian Murphy, tal como
um Ahab de Moby Dick, obcecadamente parece enxergar em Simon Silver (Robert De
Niro) o seu objetivo de vida, o teste final para a sua caminhada, e o embate
entre os dois, apesar de ter seu interesse, diminui um pouco o potencial do
filme e o aproxima mais de um thriller comum. Simon Silver, uma espécie de Uri
Geller, torna-se ameaçador, quando possivelmente poderia ter também seu lado de
vítima. Ou seja, não temos aqui um embate como o do mágico de Max Von Sydow e
do cientista Gunnar Björnstrand em O rosto, de Ingmar Bergman, onde os dois
lados tinham seus argumentos e fraquezas. Ou até temos, mas numa versão Século
XXI, com mais adrenalina e menos dúvidas, e com uma resolução mais fantástica e
improvável.
O elenco, como era de se esperar,
conduz o filme com competência, principalmente Sigourney Weaver (quando ela sai
de cena, o filme sofre um pouco). Robert De Niro tem uma atuação
grandiloquente, mas de acordo com seu personagem, que exigia mesmo grandes
performances no palco. Cillian Murphy, o ator principal, carrega bem o filme
nos ombros, demonstrando o quanto já se sente à vontade em qualquer tipo de
projeto (seu currículo impressiona desde 2002, quando surgiu com destaque em
Extermínio, de Danny Boyle). E o próprio Rodrigo Cortés demonstra competência e
confirma seu potencial, seu pecado maior mesmo, talvez o único, foi não ter
definido bem o filme que queria fazer, o que pode desnortear parte do público.
Mas há elementos suficientes para tornar o filme interessante. Se o todo não
agrada completamente, as partes têm o seu brilho próprio.
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