quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Poder paranormal (Red lights – 2012)




Depois de seu ultra-claustrofóbico Enterrado vivo (passado dentro de um caixão, em tempo real), o diretor espanhol Rodrigo Cortés ampliou seus horizontes e embargou neste projeto de escopo bem maior, com um elenco estelar. Escreveu o roteiro, produziu, editou e dirigiu Poder paranormal, e a pergunta de “Como ele conseguiu fazer tudo isso?” se relaciona tanto a ele mesmo quanto ao tema de seu filme. O enredo trata de dois cientistas (Cillian Murphy e Sigourney Weaver) e suas solitárias jornadas de tentar provar, em termos científicos, os possíveis impostores que tentariam enganar o público, angariando dinheiro em cima de falsas esperanças paranormais. Cortés pesquisou a fundo a paranormalidade, e chegou à conclusão que os dois lados, tanto os céticos como os ditos paranormais, se concentram sobretudo em defenderem suas crenças e menosprezarem as contrárias às deles, sendo mais fanáticos do que seria adequado numa pretensa busca da “verdade”. Enquanto o filme se concentra nesta eterna divisão ciência versus sobrenatural, e nos truques de como os provados impostores enganaram o público, o filme surpreende positivamente e traz bons questionamentos, inclusive quanto ao que motivaria tais cientistas buscarem tanto algo que, caso tenham sucesso, decepcionaria um público ávido por ilusões.

O problema maior é que o filme se divide em praticamente duas metades. Após um cuidadoso e envolvente estudo dos personagens, e de algumas cenas interessantes calcadas num eficiente clima de curiosidade e suspense, Cortés parece preferir focar mais no thriller do que nas nuances entre os cientistas e os paranormais. O personagem de Cillian Murphy, tal como um Ahab de Moby Dick, obcecadamente parece enxergar em Simon Silver (Robert De Niro) o seu objetivo de vida, o teste final para a sua caminhada, e o embate entre os dois, apesar de ter seu interesse, diminui um pouco o potencial do filme e o aproxima mais de um thriller comum. Simon Silver, uma espécie de Uri Geller, torna-se ameaçador, quando possivelmente poderia ter também seu lado de vítima. Ou seja, não temos aqui um embate como o do mágico de Max Von Sydow e do cientista Gunnar Björnstrand em O rosto, de Ingmar Bergman, onde os dois lados tinham seus argumentos e fraquezas. Ou até temos, mas numa versão Século XXI, com mais adrenalina e menos dúvidas, e com uma resolução mais fantástica e improvável.

O elenco, como era de se esperar, conduz o filme com competência, principalmente Sigourney Weaver (quando ela sai de cena, o filme sofre um pouco). Robert De Niro tem uma atuação grandiloquente, mas de acordo com seu personagem, que exigia mesmo grandes performances no palco. Cillian Murphy, o ator principal, carrega bem o filme nos ombros, demonstrando o quanto já se sente à vontade em qualquer tipo de projeto (seu currículo impressiona desde 2002, quando surgiu com destaque em Extermínio, de Danny Boyle). E o próprio Rodrigo Cortés demonstra competência e confirma seu potencial, seu pecado maior mesmo, talvez o único, foi não ter definido bem o filme que queria fazer, o que pode desnortear parte do público. Mas há elementos suficientes para tornar o filme interessante. Se o todo não agrada completamente, as partes têm o seu brilho próprio. 

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