Em má companhia consegue algo
muito difícil: Ele é fiel tanto à época que retrata (se passa durante a Guerra
Civil americana) quanto ao próprio princípio da década de 70, quando o filme
foi realizado. Um filme desses jamais seria feito numa década de 50, por
exemplo, com ou sem censura, porque apenas a resistência civil à malfadada
Guerra do Vietnã possibilitou que o público americano simpatizasse com a
história de vários rapazes, muitos marginais, que fugiam da Guerra Civil e dos
recrutadores. Por essa época, porém, o público já sabia que a antiga noção de
“honra” não deveria, em sã consciência, ser evocada numa guerra, e aceitava de
forma bem mais compreensiva a história de desertores. E o filme também é
respeitoso com o passado porque não o romantiza, no filme não há nenhum herói,
apenas pobreza, fome, ladrão roubando ladrão, e a Lei, que geralmente era muito
ausente, quando se apresentava era para enforcar sumariamente os envolvidos. É
uma Lei da Selva mesmo, onde cada um defende seus parcos interesses, e pode
realmente ser menos sofrido encontrar com um ladrão pela frente do que um
xerife ou o exército. Ao menos desta forma haveria uma chance um pouco maior de
misericórdia.
Acompanhamos assim Drew (personagem
de Barry Brown), filho de uma família mais abastada que o apóia totalmente para
fugir do exército, se juntar por linhas tortas com outros garotos delinquentes,
chefiados por Jake (Jeff Bridges), rumo a um Oeste a princípio muito promissor.
Logo se desenha um exótico road movie, onde evidentemente, na ausência de
carros, os personagens andam muito à cavalo, no lombo de mulas ou a pé mesmo. O
clima lembra muito o de um filme policial, também, pois acompanhamos os garotos
interagindo entre si, executando assaltos e fugindo de outros bandos de ladrões,
e a dura jornada vai forçando o amadurecimento deles e testando sua união. Há
um interessante duelo ético também na amizade de Drew e Jake, com três
possíveis vertentes: Conseguirá Drew demover Jake da vida de crimes constantes?
Se afastarão em pouco tempo, dadas as diferenças entre eles? Ou então irá Drew
cair no crime de vez, influenciado por Jake? Mesmo sem tal questão ser apresentada
diretamente por Robert Benton (diretor oscarizado de Kramer vs. Kramer), ela
claramente permeia seu interessantíssimo filme de estreia. Aliás, Robert
Benton, assim como David Newman, foi roteirista de Bonnie e Clyde – Uma rajada
de balas, filme que guarda várias semelhanças com Em má companhia, inclusive na
violência apresentada, já que o filme chega a mostrar uma criança sendo
fuzilada na cabeça (é difícil imaginar um filme atual tendo essa audácia, e o
público aceitar isso sem espernear).
A bela fotografia é de Gordon
Willis, no mesmo ano de seu lendário trabalho em O poderoso chefão. O elenco
está todo muito bem (um dos garotos do bando é inclusive John Savage, de O
franco-atirador), e Jeff Bridges, mesmo no começo de carreira, já era conhecido
do público por seu papel no aclamado A última sessão de cinema, de Peter
Bogdanovich. Mas o ator principal é realmente Barry Brown, um talentoso ator
que desgraçadamente cometeu suicídio apenas 6 anos depois, em 1978, com um tiro,
depois de anos lutando contra o alcoolismo e uma profunda depressão. No meio de
tanta angústia, ele dizia que apenas não se sentia infeliz quando atuava. Uma
grande perda, sem dúvidas.
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