quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Ted (2012)




Filme com ursinho de pelúcia falante pode pegar os incautos, crentes que assistirão a mais um filme de “Sessão da tarde” inocente e engraçadinho. Mas Ted, claro, é tudo menos isso, de filme infantil ele não tem nada, e justamente subverter esse paradigma é uma de suas grandes graças. O ursinho, assim que ganha vida a partir do desejo de um garoto, se torna uma celebridade e vai crescendo ao lado de seu dono. E com o tempo o ursinho adquire vícios, fica mulherengo, e se torna o equivalente de um americano básico de caricatura, daqueles de ficar o dia inteiro vendo TV, se drogando e falando besteira. Com isso, arrasta seu dono (Mark Wahlberg) para essa vida de eterna adolescência irreverente e despreocupada, para desespero de sua namorada (Mila Kunis).
                                 
Humor é algo muito particular, e um filme hilariante para uma pessoa pode ser irritante para outra. O humor de Ted é grosseiro, chulo, politicamente incorreto (sua piada com “nomes de mulheres white-trash” é impagável), ancorado num saudosismo dos anos 80 (com direito a reverências a Flash Gordon!) e numa relação de amizade de muitos anos, mas quem gosta deste tipo de humor (que segue a linha de Uma família da pesada e American dad, duas séries de TV capitaneadas justamente por Seth MacFarlane, diretor do filme e voz de Ted) tem tudo para rir com gosto. Ted é a estrela e razão de ser do filme, evidentemente, mas Mark Wahlberg também faz uma ótima dupla com ele, não deixando nunca a peteca cair. Por uma quase inacreditável ironia do destino, tanto ele como o diretor Seth MacFarlane escaparam por sorte de estarem em dois dos aviões usados por terroristas no 11 de Setembro (o avião que Seth pegaria foi um dos jogados no World Trade Center, e Mark Wahlberg embarcaria com toda a sua família no United 93, endereçado à Casa Branca, que caiu na Pensilvânia). Talvez terem escapado da morte assim tenha acrescentado o molho niilista e inconsequente que faz Ted funcionar tão bem. Mila Kunis, voz de Meg Griffin em Uma família de pesada, e que já contracenou com Mark Wahlberg em Max Payne, parece também totalmente entrosada com ambos, gerando um clima familiar que auxilia o filme. O final do filme é a única coisa que trai seu espírito, sendo convencional em um enredo tão anárquico, mas o filme tem diversas cenas muito engraçadas, que tendem a agradar os que já vêm preparados para ele.

Quanto aos que chegam sem saber qual o real teor do filme, essas pessoas podem realmente se assustar. Um deputado, ignorando a classificação etária para o filme (16 anos), levou seu filho de 11 anos para vê-lo e, horrorizado, sugeriu que o filme fosse censurado por ser uma possível má influência para as crianças. É verdade que o ursinho Ted é imoral, viciado em drogas, vagabundo, etc. (e parece ser feliz mesmo assim, o que irritou o deputado ainda mais). Porém, Ted ao menos é engraçado, e só faz mal a si mesmo e a seu amigo. E, maior das vantagens, é fictício. Bem menos perigoso para o futuro das crianças do que certos elementos da sociedade que não têm graça nenhuma, só trabalham de Terças às Quintas-feiras, ganham muito, têm vários assessores, recebem privilégios como auxílio-moradia, auxílio-paletó, décimo-quarto salários e o diabo (tudo isso bancado pelo povo), estão pouco se lixando para as opiniões dos outros, e também dão a impressão de estarem se divertindo com tudo isso... Esses elementos existem na vida real, são péssimas influências, saem nas primeiras páginas de jornais, para qualquer criancinha ler, e ainda exigem serem chamados de Vossa Excelência. Uma piada essa situação toda, sem dúvidas, mas difícil é rir dessa piada, que nunca sai de cartaz e nem é censurada. É bem melhor ver o filme, esse sim engraçado e que se preocupa em agradar o povo.

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