sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Cosmópolis (Cosmopolis - 2012)





Eric Packer (interpretado por Robert Pattinson) é um bilionário que vaga pela cidade em sua limusine, em busca do capricho de cortar o seu cabelo no outro lado da cidade, mesmo com o mundo desabando ao seu redor. Em uma jornada típica de Ulisses, de James Joyce, ele vaga pela cidade, no decurso de um dia, se encontrando com sua gélida esposa (a bela Sarah Gadon), com prostitutas, com seu funcionário, com seu médico (faz exames médicos diários), ignorando ao máximo os protestos e reverberações de um sistema capitalista caindo aos pedaços. Sua limusine é vital nesse sentido pois serve como uma bolha, ou um bunker ambulante, que o protege de tudo, inclusive dos sons vindos de fora. Vive acompanhado de seu guarda-costas  (Kevin Durand, o Keamy de Lost), que se torna cada vez mais um estorvo, pois este tenta proteger Packer do que parece seu último propósito: A busca de uma emoção real, nem que seja através de uma caminhada auto-destrutiva que leve à perda de todo o seu dinheiro (Packer parece não se importar em perder bilhões em um dia), ou ao risco de levar um choque ou um tiro.  

Neste novo estranho mundo dirigido e roteirizado por David Cronenberg (adaptado do livro homônimo de Don DeLillo, muito criticado na época de lançamento, mas que ganhou mais relevância com a crise de 2008), os diálogos correm soltos, mas não são realmente diálogos. São monólogos testemunhados. Packer é o exemplo maior disso, mas ninguém realmente conversa com ninguém. Não parece mais haver o sentido de coletivo, de pertencimento ao que quer que seja. Só restam indivíduos, uma massa cada vez mais sem ocupação ou propósito de vida, e uns poucos abastados que andam de limusines luxuosas e pouco se importam com os outros (e até com eles mesmos). Dentro da limusine há proteção e conforto, mas não há vida. É um mundo moribundo, esperando apenas a eutanásia final.

O grande desafio de fazer um filme com semelhante tema é conseguir engajar o público. Se o tédio dos personagens é visível, se a inconsequência deles com seus destinos reina, como tornar isto interessante? Para complicar a já difícil tarefa, os diálogos, a base do filme, que poderiam funcionar melhor no texto escrito, perdem impacto na tela. Não alcançam o resultado prometido, e nem geram grandes questionamentos no espectador, por serem disparados a toda hora. E isso causa estranheza, pois Cronenberg sempre foi um cineasta de forte impacto visual, mas Cosmópolis talvez seja seu filme mais fraco neste sentido, pois há uma certa subordinação da imagem pelo diálogo, e como este não é realmente participativo, acaba por alienar o público. A presença de vários atores de renome (Juliette Binoche, Mathieu Amalric, Paul Giamatti, etc.) pouco ajuda, pois suas participações são pequenas e pouco marcantes, com a exceção da de Paul Giamatti (o melhor ator do filme disparado, até por ter a “permissão” de sentir, de se emocionar). Robert Pattinson, que segue sua jornada de mostrar que não é só um vampiro branquelo (já interpretou Salvador Dalí em Poucas cinzas, e esteve convincente em Água para elefantes), faz o possível, mas parece ter sido sabotado desde o princípio pelo tema anestesiado do filme, e por essa postura de Cronenberg de relegar a um segundo plano o apuro visual, em detrimento do texto.

Cosmópolis talvez seja o primeiro filme de Cronenberg sem uma cena marcante, daquelas que fiquem na memória do espectador, por muito tempo. Cineasta de inegável talento, e diretor de vários grandes filmes (dentre eles o recente Um método perigoso, o que demonstra que ainda está em plena forma), espera-se que Cronenberg volte a fazer o que sempre fez de melhor: Envolver o público, ao mexer com suas angústias e pavores. É quase impossível fazer isso com um filme em que os personagens mal sabem o que é se emocionar...

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