Eric Packer (interpretado por
Robert Pattinson) é um bilionário que vaga pela cidade em sua limusine, em
busca do capricho de cortar o seu cabelo no outro lado da cidade, mesmo com o
mundo desabando ao seu redor. Em uma jornada típica de Ulisses, de James Joyce,
ele vaga pela cidade, no decurso de um dia, se encontrando com sua gélida esposa
(a bela Sarah Gadon), com prostitutas, com seu funcionário, com seu médico (faz
exames médicos diários), ignorando ao máximo os protestos e reverberações de um
sistema capitalista caindo aos pedaços. Sua limusine é vital nesse sentido pois
serve como uma bolha, ou um bunker ambulante, que o protege de tudo, inclusive dos
sons vindos de fora. Vive acompanhado de seu guarda-costas (Kevin Durand, o Keamy de Lost), que se torna
cada vez mais um estorvo, pois este tenta proteger Packer do que parece seu
último propósito: A busca de uma emoção real, nem que seja através de uma
caminhada auto-destrutiva que leve à perda de todo o seu dinheiro (Packer
parece não se importar em perder bilhões em um dia), ou ao risco de levar um
choque ou um tiro.
Neste novo estranho mundo
dirigido e roteirizado por David Cronenberg (adaptado do livro homônimo de Don
DeLillo, muito criticado na época de lançamento, mas que ganhou mais relevância
com a crise de 2008), os diálogos correm soltos, mas não são realmente
diálogos. São monólogos testemunhados. Packer é o exemplo maior disso, mas
ninguém realmente conversa com ninguém. Não parece mais haver o sentido de
coletivo, de pertencimento ao que quer que seja. Só restam indivíduos, uma
massa cada vez mais sem ocupação ou propósito de vida, e uns poucos abastados
que andam de limusines luxuosas e pouco se importam com os outros (e até com
eles mesmos). Dentro da limusine há proteção e conforto, mas não há vida. É um
mundo moribundo, esperando apenas a eutanásia final.
O grande desafio de fazer um
filme com semelhante tema é conseguir engajar o público. Se o tédio dos
personagens é visível, se a inconsequência deles com seus destinos reina, como
tornar isto interessante? Para complicar a já difícil tarefa, os diálogos, a
base do filme, que poderiam funcionar melhor no texto escrito, perdem impacto
na tela. Não alcançam o resultado prometido, e nem geram grandes
questionamentos no espectador, por serem disparados a toda hora. E isso causa
estranheza, pois Cronenberg sempre foi um cineasta de forte impacto visual, mas
Cosmópolis talvez seja seu filme mais fraco neste sentido, pois há uma certa
subordinação da imagem pelo diálogo, e como este não é realmente participativo,
acaba por alienar o público. A presença de vários atores de renome (Juliette
Binoche, Mathieu Amalric, Paul Giamatti, etc.) pouco ajuda, pois suas
participações são pequenas e pouco marcantes, com a exceção da de Paul Giamatti
(o melhor ator do filme disparado, até por ter a “permissão” de sentir, de se
emocionar). Robert Pattinson, que segue sua jornada de mostrar que não é só um
vampiro branquelo (já interpretou Salvador Dalí em Poucas cinzas, e esteve
convincente em Água para elefantes), faz o possível, mas parece ter sido
sabotado desde o princípio pelo tema anestesiado do filme, e por essa postura
de Cronenberg de relegar a um segundo plano o apuro visual, em detrimento do
texto.
Cosmópolis talvez seja o primeiro
filme de Cronenberg sem uma cena marcante, daquelas que fiquem na memória do
espectador, por muito tempo. Cineasta de inegável talento, e diretor de vários
grandes filmes (dentre eles o recente Um método perigoso, o que demonstra que
ainda está em plena forma), espera-se que Cronenberg volte a fazer o que sempre
fez de melhor: Envolver o público, ao mexer com suas angústias e pavores. É
quase impossível fazer isso com um filme em que os personagens mal sabem o
que é se emocionar...
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