terça-feira, 2 de outubro de 2012

Martha Marcy May Marlene (2011)




O fim dos anos 60 e começo dos anos 70 tiveram dois casos muito famosos de grupos comandados por rebeldes enlouquecidos, que conseguiam dominar adolescentes descontentes e/ou abandonados por seus pais com uma boa dose de coerção psicológica, beirando a lavagem cerebral: O sequestro de Patty Hearst e a família Manson. Martha Marcy Mae Marlene de certa forma retrata uma mistura dos dois casos. Martha (Elizabeth Olsen) não é sequestrada como ocorreu com Patty Hearst (neta do milionário das comunicações William Randolph Hearst, justamente o homem que mais inspirou Orson Welles a fazer Cidadão Kane), pois entra de livre arbítrio no grupo alternativo capitaneado por Patrick (John Hawkes), mas sofre aos poucos a influência nefasta do grupo, passa a crer e repetir seus mantras e começa a perder até o sentido de sua própria personalidade, como aconteceu com Patty Hearst (que chegou a participar de roubos do bando, e foi presa por causa disso). Igualmente, o grupo aos poucos entra numa espiral de loucura que aponta para resultados cada vez mais violentos e paranóicos, e a família Manson chocou o mundo com assassinatos extremamente violentos como o de Sharon Tate, esposa de Roman Polanski e grávida dele, quando foi brutalmente espancada até a morte pelos comandados de Charles Manson.

Este filme dirigido por Sean Durkin, porém (em seu longa de estreia), foca mais na personagem Martha do que no entorno dela, o que pode frustrar parte do público. Ele apresenta duas características típicas do cinema atual: Os constantes saltos temporais, e a indefinição proposital dos acontecimentos. O diretor não ilustra com muitas cores o real objetivo ou filosofia do grupo, e nem o passado de Martha, que a levou a abandonar a sociedade para se juntar àquela estranha seita. Temos, em contrapartida, uma visão sempre distorcida, pois acompanhamos os pretensos fatos através dos olhos de Martha, que assustada abandona o grupo e tenta mudar de vida, e ela está longe de ser uma testemunha confiável. O espectador fica preso no meio deste jogo de gato e rato, onde é difícil distinguir o rato do gato. As perguntas constantes são: O que estamos vendo realmente aconteceu? Se sim, foi exatamente desta maneira? Esta insegurança acompanha o espectador do filme do princípio ao fim, o que pode ser enervante ou fascinante, de acordo com o perfil de quem assiste.

Martha Marcy May Marlene é uma obra aberta por natureza, e fascinante como estudo psicológico da personagem principal, com uma sólida interpretação de Elizabeth Olsen, irmã mais nova das gêmeas açucaradas Ashley e Mary-Kate, que cada vez mais encontra seu lugar ao sol. John Hawkes ( de Inverno da alma) também auxilia, com sua presença sempre soturna, tranquila mas amedrontadora, um ator cada vez mais estabelecido no cenário americano. E Sarah Paulson, interpretando a irmã de Martha, que tenta salvá-la de si mesma, cumpre sua sofrida jornada com competência. É bom ressaltar, porém, que como thriller o filme deixa a desejar, não necessariamente por incompetência do diretor, mas porque essa foi uma estrada que ele pareceu não querer trilhar com muito afinco, e é aconselhável que o espectador saiba disso de antemão. Por concentrar-se demais na personagem principal, por vezes o filme parece incompleto, anseia-se por mais informações, mas elas surgem a conta-gotas, e sempre fornecidas pelo filtro da visão dúbia de Martha. Muito por conta disso, ao final de tudo não é de todo improvável que o espectador acabe de ver o filme tão paranoico quanto Martha. 

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