Segundo o mundo criado pelo
diretor/roteirista Rian Johnson, em 2074 a viagem no tempo seria descoberta, e
logo tornada ilegal. Mesmo assim, alguns criminosos a usariam ilegalmente para
se livrarem de forma segura de certas pessoas: Bastaria enviá-las para o ano de
2044, que um matador (um looper, segundo terminologia do filme) estaria
prontinho para matá-las instantaneamente e incinerar seus corpos. Quem
procuraria aqueles corpos, em 2044? Ninguém. Em tese, o crime perfeito. Mas,
claro, planos perfeitos nunca calculam a imperfeição das pessoas. Looper: assassinos
do futuro trata exatamente de quando esse plano perfeito não funciona, e as
complexas consequências que resultam disso.
Uma ficção-científica eficiente,
que também funciona como um bom thriller, Looper: Assasinos do futuro têm o
mérito de entender suas limitações, e não tentar reinventar a roda. O conceito
de viagem no tempo é tratado com certa parcimônia, sem gerar mil elucubrações. O
roteiro é inteligente, mas não muito preciso, ele têm seus buracos, mas Rian
Johnson sabe manter um ritmo rápido e envolvente, que evita que o espectador
fique divagando muito durante o filme. Como Bruce Willis sugere para Joseph
Gordon-Levitt, ou, se quiser, como ele diz para a versão mais nova de si mesmo
(situação clássica de filmes de viagem no tempo), o ideal é não ficar
filosofando muito sobre o assunto. Essa visão pragmática, rápida-e-rasteira,
ajuda o filme e enfatiza o seu lado thriller. Misturando elementos de O
exterminador do futuro, Os 12 macacos e Carrie, a estranha, o filme de Rian
Johnson têm méritos suficientes para se manter de pé, agradar o público e até
criar um mini-culto em torno de si, com o passar dos anos. Quanto às suas
inconsistências no roteiro, podem perfeitamente ser perdoadas por um espectador
que reconheça que teve um bom entretenimento. A jornada é proveitosa, mesmo que
eventualmente o desembarque não seja perfeito para alguns espectadores.
Além da competência de Rian
Johnson, que vai se firmando na profissão, Joseph Gordon-Levitt é outro que também
demonstra, uma vez mais, sua maturidade, e vai afastando de vez a imagem de
galã juvenil de TV. Ambos tinham trabalhado juntos em A ponta de um crime,
longa de estreia do diretor (que ajudou a elevar o status de Gordon-Levitt,
anos antes de (500) dias com ela, que foi o que mudou sua vida), e mostram
entrosamento. Bruce Willis é o Bruce Willis velho de guerra, com direito a uma
cena de chacina geral que entraria em qualquer Duro de matar facilmente (talvez
o momento mais convencional do filme, felizmente o único). Seu papel ele faz de
olhos fechados, ainda mais tendo a experiência de Os 12 macacos no currículo
(um filme, não há como negar, bem mais profundo do que Looper: Assassinos do
futuro). Emily Blunt é que surpreende, com um papel em que sai do seu
convencional, ou seja, a aristocrática, com sotaque britânico e rosto de
princesa. Aqui ela é uma mãe sofrida e dona de fazenda, que tenta ser o mais
durona possível para proteger o pequeno Cid (o menino Pierce Gagnon, em uma
bela atuação. Seu olhar é muito expressivo). Jeff Daniels também sai do seu
perfil cômico para encarnar um bandidão tranquilo, de fala mansa, com muita
eficiência. Até Paul Dano (Sangue negro, Pequena Miss Sunshine) tem seu pequeno
papel, encorpando ainda mais o molho do elenco. Contando ainda com bons efeitos
especiais (que sempre agradam os fãs do gênero), e uma maquiagem que faz Joseph
Gordon-Levitt ficar realmente mais parecido com Bruce Willis (usaram até
prótese no seu nariz), Looper: Assassinos do futuro é uma ficção-científica
que, se não chega a sentar no camarote, também não fica de pé no setor popular
dentre os filmes do gênero.
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