domingo, 10 de março de 2013

Loucamente apaixonados (Like crazy - 2011)




2011 foi um ano “like crazy”, meio louco no Cinema americano, quase como o título original deste filme de Drake Doremus (diretor também de Douchebag, de 2010). Foi um ano de um filme mudo, em preto e branco, francês, com atores e diretor franceses desconhecidos nos EUA, que passou o rodo nas principais premiações americanas (dentre elas o Oscar), como foi o caso de O artista. E foi também o ano de Loucamente apaixonados, um romance leve mas contundente, de uma inglesa e um americano de alto nível social, que conquistou o público mais intelectualizado do Festival de Sundance, levando o principal prêmio. O gênero de comédia romântica, bem ou mal, se sustenta bem e continua sendo popular (muito mais com o público do que com a crítica, que costuma apedrejar o gênero, apesar desta cultivar exceções como O lado bom da vida). Mas o Romance em si, puro, que se recusa a se escorar na comédia, como Love story ou Em algum lugar do passado, por exemplo, é um gênero em desuso, quase como o Western e o Musical. Aparece um ou outro aqui ou ali, mas não há muita continuidade, quase como se não fossem mais contemporâneos, como se fossem dissonantes deste milênio mais cínico. Quando aparece um bom exemplar deste tão combalido gênero, e Loucamente apaixonados com certeza é um deles, o público, principalmente o feminino, porém, costuma apreciá-lo muito.

Mas Loucamente apaixonados, por ser uma obra modesta, filmada em menos de um mês e com baixíssimo orçamento (apenas 250.000 dólares), não teve muita chance de alcançar muito o público, principalmente fora dos EUA, e o fato de ser um filme de clima mais sereno e de procurar evitar os clichês de filmes românticos tornou esta tarefa ainda mais difícil. A sua gestação foi totalmente pessoal, calcada nas relações de Drake Doremus e do coroteirista Ben York Jones (que foi ator de Douchebag e que é amigo de infância do diretor, e inclusive roteirizou um filme dirigido por Doremus quando ambos ainda eram adolescentes). Principalmente no que tange à relação do diretor com Desiree Pappenscheller, uma austríaca que fora ex-namorada dele e que também passara por problemas com visto nos EUA (na verdade, ainda mais sérios do que os retratados no filme). Aliás, se há alguma lição prática de Loucamente apaixonados, é que não se pode deixar o visto americano de estudante expirar quando ainda se está no país. A personagem Anna, interpretada por Felicity Jones (A tempestade, Chéri) vacila nesta questão após concluir sua faculdade, justamente por não querer se afastar, durante o verão seguinte, de Jacob (Anton Yelchin, de Star Trek (2009) e O exterminador do futuro – A salvação), por quem é apaixonada. O casal sofre justamente porque Anna logo descobre que não pode voltar aos EUA, e Jacob não quer largar sua pequena empresa e ir morar na Inglaterra. Sim, mesmo uma inglesa (ou uma austríaca, na vida real) pode passar por um aperto desses, até um cidadão de um país que fora metrópole dos EUA parece ter que seguir fielmente os trâmites diplomáticos para não se enrascar.

O romance apresentado no filme, por se basear na vida real dos escritores, parece muito verídico, e Felicity Jones e Anton Yelchin se entendem muito bem desde o começo. Extremamente charmosa, Felicity Jones comanda com elegância um filme em que uma das coadjuvantes é ninguém menos que Jennifer Lawrence, a atriz recém-oscarizada por O lado bom da vida, e que em 2010 surgira com estardalhaço no próprio Festival de Sundance com Inverno da alma. E Felicity Jones consegue esta façanha em um filme em que Jennifer Lawrence parece estar no auge da beleza. Mas esta, mesmo com um bom desempenho, tem um papel discreto (talvez o último de sua carreira, pois quando fez o filme ainda não era tão famosa), como Sam, uma secretária da mini-empresa de Jacob, e também sua amante durante os longos períodos de afastamento do casal principal, assim como Simon (Charlie Bewley) também tenta conquistar Anna durante esses sofridos intervalos. O romance de Anna e Jacob, sem dúvida com um começo muito sólido e uma química evidente, conseguirá sobreviver a estas dificuldades, de dois jovens no começo de suas carreiras, bonitos e muito assediados? Sam e Simon parecem ser bons parceiros para ambos, será que não seria melhor cada um deles prosseguir com suas vidas? Conseguirão abandonar um ao outro, deixar a relação lentamente morrer? Estarão eles lutando apenas por uma doce lembrança de uma primeira paixão, ou terão de fato algum futuro? Loucamente apaixonados lida com sensibilidade com todas estas questões, e tem tudo para atingir o público, que pode perfeitamente remeter várias das situações apresentadas no filme com suas próprias vidas. Não é um filme com vilões declarados, todos parecem bem intencionados, e os quatro (o casal principal e os amantes) sofrem por um romance que nem pode ser totalmente consumado, nem consegue ser inteiramente destruído.

Drake Doremus demonstra dominar cada vez mais a direção de um filme calcado em relacionamentos (além de Douchebag, outros filmes seus como Spooner (2009) e Moonpie (2006) também apresentam um mínimo de enfoque romântico, mesmo que aliados à comédia). Tem uma mão precisa para isso, e ainda pôde contar com uma dupla muito afiada de atores, principalmente Felicity Jones, que parece estar a meio caminho andado de se tornar uma estrela (talento, beleza e carisma ela tem, mas se tornar uma estrela nunca foi uma ciência exata). Um filme romântico, mais do que um de qualquer outro gênero, precisa de uma dupla de atores muito entrosada, que se entenda perfeitamente, e que cative o público e o faça se identificar com eles, e Loucamente apaixonados foi abençoado nessa questão, contando ainda com um diretor na ponta dos cascos e com um belo roteiro, tratado com improviso em cena pelos atores, segundo o diretor. E o filme ainda tem uma belíssima Jennifer Lawrence de lambuja, é bom lembrar. Esta é uma obra bela, suave, inteligente e profunda, sobre paixão, romance e maturidade, que conquistou muitos dos mais céticos, que normalmente se recusam a se aproximar de filmes com esta temática. Se passou meio despercebido nos cinemas mundo afora (no Brasil, já foi lançado direto em DVD...), pelo seu escopo modesto, por não carregar no sentimentalismo e por ignorar muitos dos clichês que costumam confortar parte do público (e também por não apresentar nenhuma cena caliente de nudez), não deveria ter passado. Quem se dispor a abrir esta concha tem tudo para descobrir uma pérola.

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito interessante o filme. O começo com a leitura do trabalho da aluna é demais. Leila.

Unknown disse...

Amei o filme.. é diferente.... recomendo..

dinho disse...

O cara dá um pé na bunda da Jennifer Lawrence pra ficar com aquela Inglesa dentuça ? WTF !!!