quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Tiranossauro (Tyrannosaur – 2011)




Tiranossauro é o primeiro longa dirigido e escrito por Paddy Considine, um ator já de certa estatura (apesar de ser mais conhecido de rosto do que por seu nome), tendo trabalhado em Terra de sonhos, de Jim Sheridan (no papel principal), e em A luta pela esperança e O ultimato Bourne, entre outros filmes, quase sempre em papéis coadjuvantes. O filme se trata inclusive de uma extensão de um curta seu, Dog altogether, de 2007, contando com a mesma dupla de atores principais, no caso Peter Mullan e Olivia Calmon. Em Tiranossauro, o Joseph de Peter Mullan não é o dinossauro do título, mas é como se fosse. Sua vida é de constante agressão, verbal ou física, contra tudo e todos, a começar por si mesmo. Vive bebendo e arrastando sua carcaça pelos bares, e afastando quem se atreve a chegar perto dele. Inclusive o faz com quem tem a coragem de tentar ajudá-lo, como é o caso de Hannah (Olivia Calmon), uma lojista cristã que escuta poucas e boas quando Joseph descobre que ela vive numa parte mais abastada da cidade. Mas Hannah também tem seus mistérios e seu sofrimento, como ele logo descobre.

Este filme de Paddy Considine não é, definitivamente, um filme de alto astral. Se Hannah tenta incorporar a bondade em pessoa, e perdoar a todos, sua jornada não é nada fácil, não só por conta de Joseph, como também por causa de seu marido, James, interpretado por Eddie Marsan. Este a atormenta o tempo todo por ciúmes, chegando às vias de fato, por vezes. O tom é mesmo depressivo e cru, e Paddy Considine não tenta aliviar muito o ambiente. Ele já afirmou que se irrita por ver noticiários na TV cheios de desastres e assassinatos, fechados depois com uma materia bobinha e inocente envolvendo animais, só para deixar o espectador com um espírito mais sorridente. Consequentemente, Tiranossauro não tem nada disso. Há, sim, uma certa esperança perambulando nas redondezas, mas é uma esperança que tomou suas porradas e que enche a cara no bar, como todo mundo no filme. A redenção, se vier, não virá fácil para ninguém, assim como qualquer sombra de um sorriso. Hannah bem que tenta ser a cristã perfeita, salvar a si mesma, Joseph e o marido, mas o mundo bate firme nela. Tiranossauro é um filme de agressões constantes e muita solidão. E não tem nenhum cachorrinho sorridente no fim para nos deixar ir para casa com um sorriso nos lábios, longe disso, aqui até os cachorros têm a proverbial vida de cão...

Para os de estômago forte, porém, Tiranossauro é recompensador. O trio de atores principais atua muitíssimo bem. Eddie Marsan apresenta forte atuação, e o faz com inteligência, evitando que o marido de Hannah seja visto como apenas um monstro que surra a esposa. É nítido o quanto o personagem é doente e não consegue escapar de sua loucura. Peter Mullan teve o duvidoso benefício de interpretar um personagem que conhece muito bem, já que ele mesmo foi um delinquente quando criança, participando de gangues de rua. De vida dura ele entende, e este tipo de personagem ele faz com os olhos fechados, como fez em Meu nome é Joe, de Ken Loach, onde ganhou a Palma de melhor ator em Cannes. Com certo sucesso como diretor também (dirigiu e escreveu Em nome de Deus, um belo filme que ganhou o Leão de Ouro em Veneza), nota-se que foi importante a parceria entre ele e Paddy Considine, até por ter sido criado numa família cristã. Ele disse certa vez que um há muitas semelhanças entre bandidos e atores, pois bandidos tem que saber interpretar bem para manter vítimas e outros bandidos distantes e com medo. Se for assim, então Olivia Calmon rouba o filme duplamente, mas o faz com sua resoluta bondade e com seu quieto desespero. Num raro papel cristão no Cinema atual, ela faz o possível naquela árida realidade britânica, para salvar tanto os personagens quanto ao próprio filme de sua extrema aridez. Ela tenta ser o oásis no meio do deserto, mas o problema é saber se esse oásis será suficiente para salvar a todos. Ou se será engolido pelo deserto, em mais uma tempestade de areia.

Nenhum comentário: