quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Em má companhia (Bad company -1972)




Em má companhia consegue algo muito difícil: Ele é fiel tanto à época que retrata (se passa durante a Guerra Civil americana) quanto ao próprio princípio da década de 70, quando o filme foi realizado. Um filme desses jamais seria feito numa década de 50, por exemplo, com ou sem censura, porque apenas a resistência civil à malfadada Guerra do Vietnã possibilitou que o público americano simpatizasse com a história de vários rapazes, muitos marginais, que fugiam da Guerra Civil e dos recrutadores. Por essa época, porém, o público já sabia que a antiga noção de “honra” não deveria, em sã consciência, ser evocada numa guerra, e aceitava de forma bem mais compreensiva a história de desertores. E o filme também é respeitoso com o passado porque não o romantiza, no filme não há nenhum herói, apenas pobreza, fome, ladrão roubando ladrão, e a Lei, que geralmente era muito ausente, quando se apresentava era para enforcar sumariamente os envolvidos. É uma Lei da Selva mesmo, onde cada um defende seus parcos interesses, e pode realmente ser menos sofrido encontrar com um ladrão pela frente do que um xerife ou o exército. Ao menos desta forma haveria uma chance um pouco maior de misericórdia.

Acompanhamos assim Drew (personagem de Barry Brown), filho de uma família mais abastada que o apóia totalmente para fugir do exército, se juntar por linhas tortas com outros garotos delinquentes, chefiados por Jake (Jeff Bridges), rumo a um Oeste a princípio muito promissor. Logo se desenha um exótico road movie, onde evidentemente, na ausência de carros, os personagens andam muito à cavalo, no lombo de mulas ou a pé mesmo. O clima lembra muito o de um filme policial, também, pois acompanhamos os garotos interagindo entre si, executando assaltos e fugindo de outros bandos de ladrões, e a dura jornada vai forçando o amadurecimento deles e testando sua união. Há um interessante duelo ético também na amizade de Drew e Jake, com três possíveis vertentes: Conseguirá Drew demover Jake da vida de crimes constantes? Se afastarão em pouco tempo, dadas as diferenças entre eles? Ou então irá Drew cair no crime de vez, influenciado por Jake? Mesmo sem tal questão ser apresentada diretamente por Robert Benton (diretor oscarizado de Kramer vs. Kramer), ela claramente permeia seu interessantíssimo filme de estreia. Aliás, Robert Benton, assim como David Newman, foi roteirista de Bonnie e Clyde – Uma rajada de balas, filme que guarda várias semelhanças com Em má companhia, inclusive na violência apresentada, já que o filme chega a mostrar uma criança sendo fuzilada na cabeça (é difícil imaginar um filme atual tendo essa audácia, e o público aceitar isso sem espernear).

A bela fotografia é de Gordon Willis, no mesmo ano de seu lendário trabalho em O poderoso chefão. O elenco está todo muito bem (um dos garotos do bando é inclusive John Savage, de O franco-atirador), e Jeff Bridges, mesmo no começo de carreira, já era conhecido do público por seu papel no aclamado A última sessão de cinema, de Peter Bogdanovich. Mas o ator principal é realmente Barry Brown, um talentoso ator que desgraçadamente cometeu suicídio apenas 6 anos depois, em 1978, com um tiro, depois de anos lutando contra o alcoolismo e uma profunda depressão. No meio de tanta angústia, ele dizia que apenas não se sentia infeliz quando atuava. Uma grande perda, sem dúvidas.

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