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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A arca de Noé (Noah’s ark – 1928)



A arca de Noé foi um projeto de fé, não só para o profeta bíblico, como também para a Warner Brothers e o diretor Michael Curtiz. Com o orçamento passando de um milhão de dólares (altíssimo para a época), contando cenas elaboradas de efeitos especiais, o filme ainda sofreu atribulações para virar parcialmente falado, o que alterou um pouco até o seu tamanho e seu enredo (o papel do próprio Noé foi diminuído, já que Paul McAllister, que o interpretou, não se saiu bem ao microfone). Se o filme afundasse, a Warner sofreria um prejuízo muito sofrido, justamente numa época em que já efetuara muitos gastos para ser a pioneira do Cinema falado. E o próprio Michael Curtiz, recém-chegado da Europa (onde fizera inclusive Sodoma e Gomorra, de 1922, que inspirou Jack Warner a contratá-lo para dirigir A arca de Noé) poderia ter sua carreira muito prejudicada por um fracasso num projeto daquela estatura. Felizmente, o filme se saiu muito bem nas bilheterias, dando um bom lucro e solidificando a carreira de Curtiz nos EUA, que durou décadas e teve vários destaques como Capitão Blood, A carga da brigada ligeira, As aventuras de Robin Hood, Anjos de cara suja, A canção da vitória, Almas em suplício e, claro, Casablanca, pelo qual é disparado mais lembrado.



Com um projeto daquele escopo, o estúdio e o roteirista Anthony Coldeway, adaptando uma história de Darryl F. Zanuck (que depois criaria o estúdio 20th Century, que compraria a Fox e se tornaria a 20th Century Fox que resiste até hoje, com canal de TV fortíssimo e tudo), partiram para uma solução já testada e aprovada em alguns filmes de Cecil B. DeMille, mais notadamente Os dez mandamentos (a versão de 1923): Dividir o enredo em duas partes, uma passada num passado mais recente, e a outra cobrindo mesmo o enredo bíblico em si. Assim, a história de Noé e sua arca só começa, na verdade, na metade do filme. A primeira metade é toda de uma trama onde Travis (George O’Brien) e Al (Guinn Big Boy Williams) são dois amigos que se alistam na Primeira Guerra Mundial, e Travis ainda se apaixona por uma alemã foragida, Mary (Dolores Costello), que tenta fugir da chantagem de um militar (Noah Beery) que a deseja, e ameaça entregá-la como uma falsa espião caso ela resista. Quando se começa a trama de Noé, todos estes mesmos atores incorporam personagens centrais também, inclusive com a história guardando diversas semelhanças com o enredo da primeira metade do filme. A arca de Noé faz mesmo essa certa comparação da carnificina absurda que foi a Primeira Guerra Mundial com o mundo pretensamente devasso que levara Deus a criar todo aquele dilúvio, só salvando a família de Noé e os pares de animais. A própria adoração a falsos deuses é comparada à adoração do homem do Século XX pelo dinheiro (onde não mais se adoraria animais de ouros, mas sim os tickers da Bolsa de Valores), assim como há um óbvio paralelo entre o arco-íris pós-dilúvio e o anúncio do fim da guerra.

Se na trama de Noé a influência de Os dez mandamentos continua a pesar (a forma como Deus se comunica com Noé remete logo ao filme de Cecil B. DeMille), na do passado recente a influência de filmes como Asas é mais direta, com o enredo lembrando bastante o do filme de William Wellman, que tinha feito bastante sucesso (e ganho até o primeiro Oscar de melhor filme). Sente-se que o filme foi todo construído para não deixar margens a muitos erros, escorando-se ele com o que já tinha sido eficiente em outros filmes. A própria medida de se acrescentar cenas faladas ao filme também previa justamente agradar ao máximo ao público, que já exigia isso depois do sucesso de O cantor de jazz. É de se registrar que a captação de áudio impressiona, sendo bem superior do que o usual na época (os diálogos são claros de se ouvir, com quase nenhum chiado), e a primeira cena falada até causa boa impressão. Imagina-se inclusive que tenha agradado ao público em cheio por até surpreendê-lo um pouco, por surgir depois de vários minutos após o filme ter se iniciado. Apesar disso, claro, as melhores cenas são mesmo as mudas, já que com a necessidade de se registrar o som necessitava-se de uma câmera muito estática e de muitos closes forçados. De qualquer forma, é um dos melhores filmes parcialmente falados, por saber evitar que o nível desabe com as cenas faladas. Quanto aos atores, se não brilham, fazem o seu trabalho adequadamente, mais notadamente George O’Brien (mais lembrado por sua atuação no clássico Aurora, de Murnau), a bela Dolores Costello (que ficou marcada por outro clássico, no caso Soberba, de Orson Welles) e Noah Beery (o irmão mais velho de Wallace Beery, aliás ambos eram muito parecidos fisicamente). Myrna Loy tem dois papéis no filme também, mas de pouco destaque, e ainda com sua imagem ligada a um certo exotismo, que só a abandonaria nos anos 30 (onde viraria a imagem da “esposa perfeita”). E Michael Curtiz demonstra, já desde essa época, seu domínio da linguagem narrativa, não deixando o ritmo cair e criando várias cenas de impacto. A partir daí criou uma carreira de muito sucesso, e é de se lamentar que vários diretores, com um décimo dos clássicos que ele dirigiu em seus respectivos currículos, costumam ser mais cultuados do que ele.

Mas nem tudo correu tão bem assim. O filme, mesmo custando tão caro, foi lucrativo, mas a produção dele foi um inferno quanto às cenas de efeitos especiais, mais propriamente o dilúvio em si. Como filme sobre a história de Noé sem muito aguaceiro não tem graça, a Warner e o diretor Michael Curtiz resolveram caprichar neste sentido, mas passaram totalmente da medida do bom-senso. Três figurantes morreram afogados, um teve sua perna amputada e a própria Dolores Costello pegou uma pneumonia por causa da força das águas. John Wayne foi inclusive um dos figurantes nas cenas de dilúvio, e imagina-se que o Duke tenha passado por um certo aperto. As cenas de dilúvio ainda impressionam, mas tais acidentes chocaram Hollywood e foram decisivos para que se regulasse um pouco mais a questão da segurança nas filmagens. Quanto a Cecil B. DeMille, não deve ter ficado tão chateado com a inspiração de seus filmes para a criação de A arca de Noé. Se ficou, pode-se quase afirmar que ele se vingou, pois bem que seu Sansão e Dalila (de 1949) tem cenas parecidíssimas com as do filme de Michael Curtiz quanto à cegueira forçada de um personagem, que é preso e forçado a trabalhos pesados, girando uma mó como Victor Mature fez no filme de 1949, num cenário muito similar.   

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Stella Maris (1918)




Se Chaplin foi disparado o ator mais famoso do cinema mudo, Mary Pickford conquistou essa distinção dentre as atrizes. Mesmo canadense de nascimento, foi a primeira “namoradinha da América” do Cinema, e sua fama se estendeu pelo mundo inteiro, não se restringindo aos EUA. Foi fundamental na criação da United Artists, junto com Chaplin, Griffith e seu então marido Douglas Fairbanks, e era ela quem tinha pulso firme dentre os quatro e tocava o novo estúdio adiante. Foi uma das fundadoras da Academia de de Artes e Ciências Cinematográficas, e a segunda a ganhar o Oscar de melhor atriz. Trabalhou diversas vezes com Griffith, no começo da carreira de ambos (a partir de 1909), e depois com Cecil B. deMille, Ernst Lubitsch e outros cobrões. Porém, tal currículo não sobreviveu tão bem à passagem dos anos. Outras atrizes do período são mais respeitadas e lembradas hoje em dia, como Lillian Gish, Louise Brooks e Gloria Swanson, por exemplo. De certa forma, ela ficou mesmo marcada como a eterna “menininha”, que por sua baixa estatura tinha facilidade de personificar (chegou a interpretar crianças tendo quase 30 anos, e convincentemente!). Mas filmes como Stella Maris ajudam a mostrar que aquela menininha era uma grande atriz, e que não atuou só em filmes açucarados, como é costume se pensar.

Em Stella Maris ela interpreta o papel-título, que segue mais ou menos a linha do que se espera dela: Angelical, sorridente, etc. Stella é uma menina que passa toda sua infância de cama, e seus pais criam um mundo de fantasia para ela, isolando-a de qualquer noção de um mundo real. Ou seja, o típico papel que ela fazia de olhos vendados. Mas Mary Pickford também atua como Unity Blake, uma órfã que desde sempre come o pão que o diabo amassou, e que chega a ser “adotada” por Louisa Riska (Marcia Manon) não por amor, mas para servir como uma serva para ela, e apanhar quando fizesse qualquer bobagem. Como Unity, Mary Pickford está irreconhecível. Anda torta, curvada (parece mais baixa ainda do que já era), sem maquiagem, o oposto da imagem clássica que temos da atriz. Sem aviso prévio, é bem possível que ninguém soubesse que ela interpretava os dois papéis, e se perguntasse: “Quem é essa atriz ao lado de Mary Pickford?”. Sim, ao lado, pois em algumas cenas “ambas” contracenam, num incrível trabalho de dupla exposição para a época, um efeito muito convincente.

O filme lida bem com os contrastes de uma vida de fantasia e uma de sofrimentos constantes, e também de como Stella Maris, uma vez curada, inevitavelmente descobre que não vive numa espécie de paraíso, e vai entrando num certo estado de resignação e leve depressão, enquanto que Unity aos poucos fica menos infeliz, por ser adotada “de verdade” por John Riska (Conway Tearle), justamente o marido de Louisa, que vai presa depois de dar uma surra em Unity. John, porém, é apaixonado por Stella Maris faz tempo, que no seu mundinho perfeito nem desconfia que ele é casado com Louisa...

Marshall Neilan, o diretor (que dirigiu outros sucessos de Mary Pickford, como Daddy-Long-Legs e Rebecca of the Sunnybrook farm) caprichou em trazer refinamento à simples história, já demonstrando um belo domínio da gramática cinematográfica em 1918. Frances Marion, a roteirista, de grande reputação em Hollywood, foi fundamental também não só por seu trabalho em si no roteiro, mas também por ter recomendado e emprestado o famoso livro de William J. Locke para sua parceira e amiga Mary Pickford, que se apaixonou por ele e fez o filme acontecer. Mundialmente famosa, com dinheiro, influência, talento e, principalmente, uma vontade férrea, Mary Pickford tinha jeito de menininha, mas quando tinha um projeto na cabeça, era bom sair da frente. Responsável pelo sustento de sua família desde que tinha 8 anos, Mary Pickford pegou no pesado desde cedo, e encarou uma Hollywood na época que mal passava de um imenso laranjal, quando muito barbado tinha medo de ir para lugar tão inóspito. Neste filme aqui, ela atua como Stella Maris e Unity Blake. Na vida real, era uma Unity no corpo de uma Stella Maris. Uma combinação explosiva. Ai de quem a menosprezou por causa de sua frágil aparência.





sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Audio - Macho e fêmea (Male and female - 1919)


Direção: Cecil B. DeMille
Elenco: Gloria Swanson, Thomas Meighan, Lila Lee, Theodore Roberts, Raymond Hatton, Robert Cain, Bebe Daniels

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